quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Cidade dos Homens

Como que eu saí disso? Como passei para o outro lado? Eu deveria ser um exemplo já que vim da favela sem amigos, um ícone para incentivar aquelas pessoas mostrando que temos outras oportunidades... Mas eu tive outra oportunidade? Caramba eu não lembro! Eu tive? Hoje eu percebo uma nova e perigosa maneira de não fazer parte da história de pobreza social e cultural do Rio de Janeiro: minha “ausência mental” proporcionou minha ascensão social.

Eu simplesmente não participei, não me envolvi, não me preocupei, não almejei, não busquei. Eu estava numa bolha. Passei minha infância imaginando como seria linda uma infância diferente, rica, perfeita... e me transportava para essa infância perfeita, enquanto as outras crianças sofriam na dura realidade pobre e favelada. Eu me recusava a ouvir as chacotas que vinham de fora e ouvia as conversas inteligentes e elitistas das vozes que vinham de dentro. Eu evitava os contatos com drogas, bandidos e armas me transportando para dentro da televisão magicamente colorida.

Mas minha alienação só foi rentável para o crescimento porque eu também usufrui da minha inocência, minha índole e também das pessoas que me cercavam, minha família, que adorava ver o lindo indiozinho feliz apesar dos pesares. Quando percebi, já tinha crescido e já haviam feitos na minha vida de fazer qualquer um orgulhoso! E como nada dura pra sempre, nasci em pé, como um maior de idade cheio de bagagem nas costas.

Deixa que a vida assuma a responsabilidade de me educar. Logo que abdiquei de mamãe, comecei a levar tapa da vida mesmo, de joelhos nmilho e virado para a realidade. Agora sofro o que as pessoas, sem conhecer minha história, se espantam, perguntando como é possível alguém tão bom e ser mal em outros aspectos. Isso me revolta? Aprender depois de crescido revolta. Mas por um lado é bom agora, concientemente, separar o joio do trigo.

Eis aqui a resposta para essas perguntas, que acidentalmente descobri vendo um filme de fazer qualquer um chorar, mas particularmente me fez pensar, refletir, analisar e escrever. Mas acho que não vou chorar. Pelo menos não agora, chega de lágrimas para realidade: temos que agir.

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